Eu sempre me considerei uma pessoa prevenida. Sempre andava com minha bolsa bem fechada, jamais tirava o celular do bolso na rua e evitava lugares perigosos a todo custo. Mas, como dizem por aí, a gente nunca está livre de uma surpresa. E a minha grande surpresa veio em forma de ladrão.

Eu estava caminhando pela rua, voltando do trabalho, quando um rapaz apareceu correndo do nada e arrancou minha bolsa das minhas mãos. Eu levei um susto enorme e senti um misto de raiva e medo, imaginando o que ele faria com meus pertences. Mas, para minha surpresa, ele não levou tudo. Ele deixou minha carteira com meus documentos e meu celular - provavelmente porque não estava afim de correr o risco de se dar mal com a polícia.

Pode parecer estranho, mas o que era para ser só um episódio de roubo acabou gerando um sentimento inesperado em mim. Eu não sei se foi o choque do acontecimento, ou se foi a adrenalina da situação, mas eu me peguei pensando naquele ladrão o tempo todo. Quem era ele? Por que ele escolheu aquela rua para roubar? Será que ele me observou antes? Eu estava obcecada e, não tenho vergonha de admitir, até um pouco apaixonada.

Eu sei, eu sei. É loucura. Eu nunca tinha sentido nada assim antes. Eu jamais pensaria que algo tão perigoso como um roubo poderia gerar um sentimento tão forte em mim. Mas o fato é que eu comecei a procurá-lo pelas ruas, tentando reconhecê-lo. E no fim das contas, eu acabei encontrando.

Foi um encontro totalmente inesperado. Eu estava andando na mesma rua em que fui roubada, imaginando como seria encontrar aquele ladrão novamente, quando ouvi uma voz chamar meu nome. Eu olhei para trás e lá estava ele, com uma expressão assustadoramente séria no rosto.

- Eu sei que você tá me procurando - ele disse.

Eu gaguejei um pouco, sem saber o que dizer. Ele estava certo. Eu tinha passado algumas horas do meu dia procurando por ele. Mas como explicar que era uma espécie de curiosidade? Ou pior ainda, que era uma espécie de curiosidade em forma de amor? Eu não sabia. E ele percebeu isso.

- Não precisa ter medo de mim - ele falou, mais uma vez me surpreendendo. - Eu não vou te roubar de novo.

Eu ri um pouco, tentando abaixar a guarda.

- Eu nunca pensei que eu fosse dizer isso - eu disse - mas você é o meu ladrão favorito.

Ele sorriu, e eu achei que fosse desmaiar. Aquele sorriso tinha algo de encantador, mesmo que ele fosse um ladrão. E então, nós começamos a conversar. Descobrimos que tínhamos algumas coisas em comum. Ele tinha perdido o emprego recentemente, e eu tinha acabado de sair da faculdade sem saber o que fazer da vida. Ele tinha uma família para sustentar, e eu não tinha nenhum compromisso além de pagar meu aluguel. Ele gostava de poesia, e eu também.

Eu nunca pensei que teria uma conexão com um ladrão. Eu nunca pensei que teria uma conexão tão forte com uma pessoa que havia me roubado. Mas a verdade é que, em alguns momentos, ele parecia tão vulnerável quanto eu. Ele parecia ter mais medo da polícia do que eu tinha medo dele. E isso me fez sentir um pouco mais humana.

Nós nos encontramos algumas vezes depois desse dia. Algumas vezes em cafés, algumas vezes no parque da cidade. Ele nunca me roubou de novo, e eu nunca pedi nada em troca das nossas conversas. Nós só trocávamos ideias, histórias, e um sentimento que, para mim, era difícil de explicar.

Um dia, eu acordei e vi as notícias. Ele tinha sido pego pela polícia, e estava sendo acusado de algo bem mais grave do que um roubo. Eu fiquei arrasada. Eu não sabia o que fazer. Eu tinha só uma opção óbvia: ir até a delegacia e tentar ajudá-lo. E foi o que eu fiz.

Eu não sabia direito o que dizer para os policiais. Eu nem sabia se eles iam me deixar falar com ele. Mas eu sabia que, de alguma forma, eu precisava estar lá. E, para minha surpresa, eu consegui. Eu consegui convencer os policiais a me deixar falar com ele.

- Você não devia estar aqui - ele disse, quando me viu na sala de interrogatório.

- Eu não podia deixar você sozinho - eu disse, tentando não chorar.

Ele deu um sorriso triste.

- Você é maluca - ele disse. - Mas eu gosto disso em você.

Foi a última vez que nós nos vimos. Ele foi preso, e eu fiquei sabendo depois que ele tinha fugido da prisão. Eu não sabia o que pensar. Eu não sabia se eu tinha feito a coisa certa. Eu não sabia se eu tinha sido uma idiota por me envolver com um ladrão. Mas eu sabia que, por algum tempo, eu tinha tido um sentimento forte por alguém que não fazia parte do meu mundo. E, no fundo, eu achava que nunca teria essa chance de novo.

Hoje em dia, eu ando por essa mesma rua, com minha bolsa fechada e meu celular no bolso. Eu não tenho mais a ilusão de encontrar meu ladrão favorito. Mas eu ainda me lembro daquele sentimento, de uma surpresa que me levou a uma conexão inesperada. E eu acho que, às vezes, o imprevisível pode ser uma das melhores coisas da vida.